APRESENTAÇÃO
Em sua sétima edição consecutiva, a MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo reúne um recorte da cena contemporânea mundial, com produções que enveredam pela experimentação de linguagem e se mostram críticas ao seu próprio tempo. Dentro dessa perspectiva, na programação de 2020, os eixos apontam para duas palavras-chave: transbordar e transgredir, conceitos refletidos também nas obras do artista plástico Henrique Oliveira, que compõem a identidade visual desta edição. A Mostra de Espetáculos inclui trabalhos internacionais com artistas de diversos países, e a A MITbr – Plataforma Brasil se consolida como um importante programa de internacionalização das artes cênicas brasileiras. Complementam a programação as atividades de Olhares Críticos, que convidam o público a pensar as artes cênicas e a contemporaneidade a partir mesas, conversas, publicação de artigos e críticas, entre outros; e o eixo Ações Pedagógicas, com residências, oficinas, intercâmbios e atividades que propõe a discussão sobre novas pedagogias, novos modos de produzir e transmitir conhecimento.
NÚMEROS DA MITsp
+ de 100 mil
espectadores
+ de 35 países
em destaque
+ de 60 espetáculos
apresentados
+ de 220
sessões
MOSTRA DE ESPETÁCULOS
46 sessões no total, sendo 14 gratuitas
O artista em foco internacional é o encenador Milo Rau, que, desde o ano passado, assumiu a direção artística de um dos teatros públicos mais importantes da Europa, o NT Gent, na Bélgica. O interesse de Rau está nos conflitos humanos, históricos, sociopolíticos e no pensamento sobre o teatro. Em A Repetição. História(s) do Teatro (I), que abre a MITsp no dia 14 de março, no Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, um caso de homofobia e xenofobia que resultou na morte de um jovem na Bélgica é levado ao palco; em Cinco Peças Fáceis, outra história real de violência, ocorrida na Bélgica; e em Compaixão. A História da Metralhadora, a crise dos refugiados e a relação histórica entre Europa e África.
Dieudonné Niangouna, nascido no Congo, radicado na França, envereda pela discussão sobre os resquícios das colonizações em O Alicerce das Vertigens a partir de uma história ficcional. Democracia, coprodução entre a MITsp, Universidade Finis Terrae e Fundación Teatro a Mil, de Felipe Hirsch, destaca as contradições na democracia chilena pós-ditadura. Do Chile, a MITsp recebe ainda o espetáculo Paisagens para Não Colorir, da Companhia La Re-Sentida, criado a partir de testemunhos de mais de 100 adolescentes mulheres, vítimas de violência.
MDLSX, da italiana MOTUS, discute o respeito às diferenças e a superação do comportamento binário, numa performance solo com referências literárias e autobiográficas. Na peça Partir com Beleza, o marroquino radicado na França Mohamed El Khatib trabalha com um tema delicado, íntimo, mas, ao mesmo tempo, universal: a morte da mãe.
Em Mágica de Verdade, da inglesa Forced Entertainment, nos deparamos com a pós verdade, a corrupção e a manipulação da mídia, que emergem a partir de um game show. A companhia foi a vencedora do The International Ibsen Award 2016, considerado o “Prêmio Nobel” do teatro.
Além dos trabalhos internacionais, o eixo Mostra de Espetáculos inclui três estreias. A Boba, de Wagner Schwartz, confronta a ideia de nação a partir da relação com a obra homônima de Anita Malfatti. Renata Carvalho conta a história do corpo travesti em Manifesto Transpofágico. Gabriela Carneiro da Cunha estreia Altamira 2042, uma instauração sonora que amplifica testemunhos sobre a hidrelétrica de Belo Monte.
MITbr – PLATAFORMA BRASIL
25 sessões no total, sendo 10 gratuitas
A MITbr explicita a diversidade da produção contemporânea brasileira não só no que diz respeito às questões estéticas, mas à pluralidade das discussões que se desprendem do nosso contexto.
Em Vestígios, a artista em foco Marta Soares pesquisou em cemitérios indígenas pré-históricos durante o processo de criação do trabalho. A coreógrafa e bailarina possui uma trajetória de relevância significativa no país, desenvolvendo um trabalho que investiga possibilidades de interseções entre a dança, as artes visuais, a arte performática e a música.
O debate sobre descolonização também está presente nos eixos pedagógico e reflexivo e ganha forma com Colônia. Renato Livera convida a plateia a acompanhar a evolução de um pensamento a partir das designações do termo que dá título à peça. Protocolo Elefante, do grupo Cena 11, e Boca de Ferro, com o performer Ícaro dos Passos Gaya, estão mais voltados à investigação cênica de um corpo que não necessariamente é o normativo. De modo semelhante, Cria mergulha nas linguagens artísticas periféricas, tendo como inspiração o passinho. Discussões urgentes sobre as relações do homem contemporâneo com as religiões e a fé são evidenciadas em Altíssimo, e sobre o racismo como prática estrutural no Brasil, em Isto é um Negro?.
Lobo e V:U:L:V:A colocam em jogo questões do feminino e do feminismo, chamando atenção para o hábito da sociedade de colonizar o corpo das mulheres. A intervenção cênica (ver[ ]ter) à deriva leva às ruas uma apropriação de elementos da performance, como a presença dos corpos, o contato direto, o elemento de risco, ocupando os espaços na Avenida Paulista com sons, imagens, danças e ações criadas a partir das obras do artista britânico Banksy. Os músicos do quarteto de jazz À Deriva executam a música ao vivo.
Para além da apresentação dos espetáculos, diante da importância de difundir a produção cultural brasileira no exterior, o eixo realiza o II Seminário de Internacionalização das Artes Cênicas Brasileiras, que reunirá artistas, programadores, produtores, curadores e gestores públicos e privados.
OLHARES CRÍTICOS
40 atividades gratuitas
Pensada como uma rede de ações de mediação que acontecem em diferentes formatos, a programação dos Olhares Críticos convida à reflexão sobre as artes cênicas e a contemporaneidade a partir da publicação de artigos, entrevistas e críticas, e da realização de debates, conversas e mesas com pensadores de diferentes áreas e lugares de fala.
O seminário das Reflexões Estético-Políticas debate o estatuto da arte no Brasil contemporâneo, discutindo questões como a relação entre arte e infância, a criminalização dos saberes não hegemônicos, o ódio à arte e a negação da história. Na abertura, juristas abordam Direito, liberdade de expressão, a realidade social da infância e da juventude na relação com o teatro.
O Fórum Descolonização: os Desafios de quem Vive em Estado de Emergência pretende reunir artistas e pesquisadores que indagam, cada qual com base em suas experiências, como a arte lida – ou deixa de lidar – com os processos de descolonização.
Carol Martin, professora e pesquisadora da New York University (NYU), ministra uma masterclass sobre o teatro documentário contemporâneo e os teatros do real. O dramaturgo e diretor congolês Dieudonnée Niangouna ministra uma masterclass e conversa com as atrizes da peça Compaixão. A História da Metralhadora. Também serão realizadas entrevistas públicas com Marta Soares, Milo Rau e Wagner Schwartz.
A revista Cartografias MITsp 2019, concebida e realizada em parceria com a pesquisadora Sílvia Fernandes, publica entrevistas com os artistas da mostra, feitas com a colaboração de Julia Guimarães, além de artigos com recortes transversais a partir dos espetáculos da programação. Pela primeira vez, o catálogo inclui um artigo escrito por um líder indígena, Ailton Krenak, no Dossiê Reflexões Estético-Políticas.
AÇÕES PEDAGÓGICAS
24 atividades gratuitas
O eixo Ações Pedagógicas propõe a reflexão sobre poéticas e práticas decoloniais em uma cena ampliada, que borra as fronteiras artísticas e políticas. A programação começou quase um mês antes da abertura oficial da MITsp, no dia 18 de fevereiro, com o intercâmbio artístico com o artista Arkadi Zaides, israelense radicado na França que esteve na MITsp em 2015, apresentando o espetáculo Arquivo.
Ativistas, representantes de movimentos sociais da América Latina e performers também participam de um intercâmbio intitulado Coletividades em Cena – Encontros de Resistência, que evidencia quais causas nos movem. Marta Soares, artista em foco na MITbr, orienta uma ação performática a partir de procedimentos utilizados na sua própria pesquisa, inclusive uma imersão física, neste caso em trechos do Caminho do Peabiru, antiga rota indígena que cruza a cidade de São Paulo. A venezuelana Deborah Castillo realiza uma ação performática que questiona o poder na América Latina e partilha com o público suas reflexões como artista diante do contexto atual de seu país.
Em consonância com o Seminário de Internacionalização das Artes Cênicas, Amy Saunders, do Reino Unido, orienta a oficina Festival Fringe de Edinburgo – da Sobrevivência ao Êxito; e a conferência Fringe: o Maior Mercado de Artes do Mundo. Já o produtor Gie Baguet também discute circulação internacional na oficina e na conferência A Filosofia do Entusiasmo.