por Guilherme Marques,  idealizador e diretor geral de produção

Insurgir em tempos de escassez sempre foi o meu desafio. Sempre busquei no fazer artístico forças para transformar a escassez em algo necessário que suscitasse a troca, o conhecimento e o diálogo. Ao longo da minha trajetória tive muitos projetos bem-sucedidos e outros nem tanto, porém, sigo firme no meu propósito como cidadão na busca e dignificação das minhas escolhas artísticas e intelectuais. Por mais complexa que seja a nossa profissão, num país onde o artista é invisibilizado e marginalizado por uma grande parte da população, esse desafio torna a tarefa hercúlea! Resistimos ou morremos?! Na atual conjuntura política do país, proponho-me a rever as minhas “convicções”, “verdades” e “certezas” diante de tanta desumanização e autoritarismo.

Como gestor e produtor cultural trago a reflexão e o debate sobre a fricção entre a idealização e a execução dos projetos. Pois muitas vezes os impasses burocráticos e as respostas tardias dos recursos para realização dos festivais, além de onerar os custos, adoece a todos nós. É urgente e se faz necessário tanto o poder público quanto o privado repensarem os tempos e os modos de fazer produção em nosso país. Um planejamento a médio e longo prazo impacta diretamente a redução dos gastos e dá uma maior visibilidade tanto para as ações artísticas como para as instituições apoiadoras. Sendo assim, ganhamos todos.

Acredito que o âmbito cultural é uma potência! Já está mais que evidenciado, também por meio de estudos prévios, que este é um dos setores que mais geram riqueza para o nosso país. Quer dizer, estamos falando de um mercado de trabalho que gera milhões de empregos. É urgente termos em nossas mãos os indicadores econômicos da cultura para sabermos exatamente a potência e a riqueza gerada pelo setor. Por isso que na atual conjuntura faço um apelo para que todos nós, artistas, nos organizemos em torno de um movimento nacional para fazer esse levantamento e definitivamente mostrar a força da nossa área!

Tomando como exemplo a edição da MITsp 2020, geramos algo em torno de 150 empregos diretos e 300 indiretos. Movimentamos a hotelaria, restaurantes, teatros, transporte público, pagamos impostos e, além disso, promovemos 63 ações reflexivas e pedagógicas gratuitas, 12 espetáculos internacionais e 13 espetáculos nacionais. Com a Plataforma Brasil – Programa de Internacionalização das Artes Cênicas Brasileiras, um dos quatro eixos da MITsp, criamos uma interlocução direta com 68 programadores nacionais e internacionais visando a circulação dos artistas brasileiros nos festivais e mostras pelo mundo. Em apenas duas edições da Plataforma tivemos a evidência de espetáculos e artistas convidados para se apresentarem em vários festivais. O que mostra a pujança e o diferencial da nossa produção artística. Lamento que o poder público nas três esferas não tenha desenvolvido ainda políticas públicas voltadas para a internacionalização dos nossos artistas. Será que não está na hora de termos uma bancada parlamentar que defenda as nossas causas?

Para finalizar, quero reconhecer os nossos parceiros pela acolhida, seja econômica ou mesmo sediando ações em seus espaços, pois seria impossível realizar a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo sem os seus apoios. Desde sempre agradeço ao Banco Itaú, Itaú Cultural, Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa, Sesc São Paulo, Sesi-SP, Sabesp, Porto Seguro, Veólia, Instituto Francês de Paris, Consulado da França em São Paulo, Goethe-Institut e Consulado da Alemanha em São Paulo, Pro Helvetia, British Council, Cultura Inglesa, Instituto Italiano, Instituto Camões e Consulado de Portugal em São Paulo. Muito obrigado por acreditarem e incentivarem esta Mostra em tempos tão sombrios!