APRESENTAÇÃO

Desde 2014, a MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo reúne um recorte significativo da cena contemporânea mundial, produções que enveredam pela experimentação de linguagens, mas também possuem uma postura crítica ao seu tempo. Em 2019, o eixo Mostra de Espetáculos contempla obras internacionais e estreias nacionais. A MITbr – Plataforma Brasil, que começou no ano passado, se consolida, abarcando a apresentação de montagens brasileiras selecionadas por uma chamada pública e a segunda edição do seminário sobre internacionalização das artes cênicas do país. Integram ainda a programação as atividades dos Olhares Críticos, voltadas à reflexão sobre questões estéticas e políticas; e o eixo Ações Pedagógicas, com residências, oficinas, intercâmbios e atividades que mobilizam corpos para pensar poéticas, práticas e políticas.

18 teatros, sendo 9 deles públicos
2 apresentações na rua
Atividades de Olhares Críticos e Ações Pedagógicas em 22 espaços

MOSTRA DE ESPETÁCULOS

46 sessões no total, sendo 14 gratuitas

O artista em foco internacional é o encenador Milo Rau, que, desde o ano passado, assumiu a direção artística de um dos teatros públicos mais importantes da Europa, o NT Gent, na Bélgica. O interesse de Rau está nos conflitos humanos, históricos, sociopolíticos e no pensamento sobre o teatro. Em A Repetição. História(s) do Teatro (I), que abre a MITsp no dia 14 de março, no Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, um caso de homofobia e xenofobia que resultou na morte de um jovem na Bélgica é levado ao palco; em Cinco Peças Fáceis, outra história real de violência, ocorrida na Bélgica; e em Compaixão. A História da Metralhadora, a crise dos refugiados e a relação histórica entre Europa e África.

Dieudonné Niangouna, nascido no Congo, radicado na França, envereda pela discussão sobre os resquícios das colonizações em O Alicerce das Vertigens a partir de uma história ficcional. Democracia, coprodução entre a MITsp, Universidade Finis Terrae e Fundación Teatro a Mil, de Felipe Hirsch, destaca as contradições na democracia chilena pós-ditadura. Do Chile, a MITsp recebe ainda o espetáculo Paisagens para Não Colorir, da Companhia La Re-Sentida, criado a partir de testemunhos de mais de 100 adolescentes mulheres, vítimas de violência.

MDLSX, da italiana MOTUS, discute o respeito às diferenças e a superação do comportamento binário, numa performance solo com referências literárias e autobiográficas. Na peça Partir com Beleza, o marroquino radicado na França Mohamed El Khatib trabalha com um tema delicado, íntimo, mas, ao mesmo tempo, universal: a morte da mãe.

Em Mágica de Verdade, da inglesa Forced Entertainment, nos deparamos com a pós verdade, a corrupção e a manipulação da mídia, que emergem a partir de um game show. A companhia foi a vencedora do The International Ibsen Award 2016, considerado o “Prêmio Nobel” do teatro.

Além dos trabalhos internacionais, o eixo Mostra de Espetáculos inclui três estreias. A Boba, de Wagner Schwartz, confronta a ideia de nação a partir da relação com a obra homônima de Anita Malfatti. Renata Carvalho conta a história do corpo travesti em Manifesto Transpofágico. Gabriela Carneiro da Cunha estreia Altamira 2042, uma instauração sonora que amplifica testemunhos sobre a hidrelétrica de Belo Monte.

MITbr – PLATAFORMA BRASIL

25 sessões no total, sendo 10 gratuitas

A MITbr explicita a diversidade da produção contemporânea brasileira não só no que diz respeito às questões estéticas, mas à pluralidade das discussões que se desprendem do nosso contexto.

Em Vestígios, a artista em foco Marta Soares pesquisou em cemitérios indígenas pré-históricos durante o processo de criação do trabalho. A coreógrafa e bailarina possui uma trajetória de relevância significativa no país, desenvolvendo um trabalho que investiga possibilidades de interseções entre a dança, as artes visuais, a arte performática e a música.

O debate sobre descolonização também está presente nos eixos pedagógico e reflexivo e ganha forma com Colônia. Renato Livera convida a plateia a acompanhar a evolução de um pensamento a partir das designações do termo que dá título à peça. Protocolo Elefante, do grupo Cena 11, e Boca de Ferro, com o performer Ícaro dos Passos Gaya, estão mais voltados à investigação cênica de um corpo que não necessariamente é o normativo. De modo semelhante, Cria mergulha nas linguagens artísticas periféricas, tendo como inspiração o passinho. Discussões urgentes sobre as relações do homem contemporâneo com as religiões e a fé são evidenciadas em Altíssimo, e sobre o racismo como prática estrutural no Brasil, em Isto é um Negro?.

Lobo e V:U:L:V:A colocam em jogo questões do feminino e do feminismo, chamando atenção para o hábito da sociedade de colonizar o corpo das mulheres. A intervenção cênica (ver[ ]ter) à deriva leva às ruas uma apropriação de elementos da performance, como a presença dos corpos, o contato direto, o elemento de risco, ocupando os espaços na Avenida Paulista com sons, imagens, danças e ações criadas a partir das obras do artista britânico Banksy. Os músicos do quarteto de jazz À Deriva executam a música ao vivo.

Para além da apresentação dos espetáculos, diante da importância de difundir a produção cultural brasileira no exterior, o eixo realiza o II Seminário de Internacionalização das Artes Cênicas Brasileiras, que reunirá artistas, programadores, produtores, curadores e gestores públicos e privados.

OLHARES CRÍTICOS

40 atividades gratuitas

Pensada como uma rede de ações de mediação que acontecem em diferentes formatos, a programação dos Olhares Críticos convida à reflexão sobre as artes cênicas e a contemporaneidade a partir da publicação de artigos, entrevistas e críticas, e da realização de debates, conversas e mesas com pensadores de diferentes áreas e lugares de fala.

O seminário das Reflexões Estético-Políticas debate o estatuto da arte no Brasil contemporâneo, discutindo questões como a relação entre arte e infância, a criminalização dos saberes não hegemônicos, o ódio à arte e a negação da história. Na abertura, juristas abordam Direito, liberdade de expressão, a realidade social da infância e da juventude na relação com o teatro.

O Fórum Descolonização: os Desafios de quem Vive em Estado de Emergência pretende reunir artistas e pesquisadores que indagam, cada qual com base em suas experiências, como a arte lida – ou deixa de lidar – com os processos de descolonização.

Carol Martin, professora e pesquisadora da New York University (NYU), ministra uma masterclass sobre o teatro documentário contemporâneo e os teatros do real. O dramaturgo e diretor congolês Dieudonnée Niangouna ministra uma masterclass e conversa com as atrizes da peça Compaixão. A História da Metralhadora. Também serão realizadas entrevistas públicas com Marta Soares, Milo Rau e Wagner Schwartz.

A revista Cartografias MITsp 2019, concebida e realizada em parceria com a pesquisadora Sílvia Fernandes, publica entrevistas com os artistas da mostra, feitas com a colaboração de Julia Guimarães, além de artigos com recortes transversais a partir dos espetáculos da programação. Pela primeira vez, o catálogo inclui um artigo escrito por um líder indígena, Ailton Krenak, no Dossiê Reflexões Estético-Políticas.

AÇÕES PEDAGÓGICAS

24 atividades gratuitas

O eixo Ações Pedagógicas propõe a reflexão sobre poéticas e práticas decoloniais em uma cena ampliada, que borra as fronteiras artísticas e políticas. A programação começou quase um mês antes da abertura oficial da MITsp, no dia 18 de fevereiro, com o intercâmbio artístico com o artista Arkadi Zaides, israelense radicado na França que esteve na MITsp em 2015, apresentando o espetáculo Arquivo.

Ativistas, representantes de movimentos sociais da América Latina e performers também participam de um intercâmbio intitulado Coletividades em Cena – Encontros de Resistência, que evidencia quais causas nos movem. Marta Soares, artista em foco na MITbr, orienta uma ação performática a partir de procedimentos utilizados na sua própria pesquisa, inclusive uma imersão física, neste caso em trechos do Caminho do Peabiru, antiga rota indígena que cruza a cidade de São Paulo. A venezuelana Deborah Castillo realiza uma ação performática que questiona o poder na América Latina e partilha com o público suas reflexões como artista diante do contexto atual de seu país.

Em consonância com o Seminário de Internacionalização das Artes Cênicas, Amy Saunders, do Reino Unido, orienta a oficina Festival Fringe de Edinburgo – da Sobrevivência ao Êxito; e a conferência Fringe: o Maior Mercado de Artes do Mundo. Já o produtor Gie Baguet também discute circulação internacional na oficina e na conferência A Filosofia do Entusiasmo.

NÚMEROS DAS ÚLTIMAS CINCO EDIÇÕES DE MITsp

+ de 100 mil
espectadores

+ de 35 países
em destaque

+ de 60 espetáculos
apresentados

+ de 220
sessões