TORNAR POSSÍVEL O IMPOSSÍVEL


Gostaria de expressar a nossa gratidão aos parceiros que estão conosco desde a primeira edição. Eles acreditam e respaldam uma utopia, pensada e sonhada durante cinco anos, na qual tentamos vivificar o legado dos festivais nacionais e internacionais brasileiros que vieram antes de nós e por nós sempre referenciados e reverenciados. São parceiros: o Itaú, o Itaú Cultural, o Sesc São Paulo, a Secretaria de Cultura – agora de Economia Criativa – do Estado de São Paulo, a Secretaria Municipal de Cultura, a Sabesp, instituições culturais estrangeiras como o Consulado Francês de São Paulo, o Goethe-Institut São Paulo, a Pro Helvetia, o British Council e as instâncias consulares europeias e latino-americanas na capital paulista. E também estão conosco: Sesi-SP, Asus, Porto Seguro, Cultura Inglesa e Instituto Italiano de Cultura de São Paulo.

De nossa experiência nestes seis anos de MITsp, consideramos central o alinhamento entre o poder público e o privado nas esferas municipal, estadual e federal para mudar o paradigma de se fazer gestão cultural pública em nosso país. Tal alinhamento permitiria a circulação da nossa produção cultural em pequenos, médios e grandes municípios, produzindo uma sinergia entre estas instituições. Isso acarretaria na potencialização e na sociabilização do fazer artístico, e também na disseminação de conhecimento, cultura e arte para um maior número de pessoas. Essa realidade só será possível se existirem, nas microrregiões dos Estados federativos, fundos para a criação, a manutenção e a circulação da produção artística e cultural, sempre em diálogo com a sociedade civil e os poderes constituídos numa ação suprapartidária e plural.

Também é central que se atente para a internacionalização das artes cênicas brasileiras, que, como temos observado, é tão pouco vista nos festivais internacionais – europeus, latino-americanos, entre outros. É urgente potencializar a expansão do seu reconhecimento e fomentar sua circulação, dando continuidade à agenda de diálogo iniciada na MITsp 2018 entre a ApexBrasil, a Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania do governo federal, o Ministério das Relações Exteriores, a Receita Federal e a Secretaria de Comunicação do governo federal, para juntos estabelecer diretrizes e ações visando à internacionalização das artes cênicas brasileiras. Como exemplo, pode-se tomar o que realizam nossos vizinhos Argentina, Chile e Colômbia, que incentivam e investem em seus artistas dentro e fora de seu país. Os festivais nacionais e internacionais são os agentes e embaixadores da expressão cultural brasileira.

Nesse sentido, é necessária uma mudança de paradigma em relação ao tempo de planejamento dos festivais no Brasil. Precisamos construir, junto a todos os patrocinadores e parceiros dessas mostras, uma agenda que permita obter as respostas de apoio com um ano de antecedência. A produção cultural no Brasil precisa sair da lógica do “último minuto”, que só onera os custos finais de um evento, já que os valores aumentam quando a compra de passagens, a reserva de hospedagens, o pedido do transporte das cargas cenográficas, etc., são realizados tardiamente. Em vez disso, precisamos conseguir trabalhar com antecipação e planejamento de médio e longo prazo.

Em um horizonte de transformações positivas, seria necessário realizarmos estudos aprofundados sobre os indicadores econômicos e o impacto da cultura na economia brasileira. Avaliar esta cadeia é fundamental para enxergarmos a potência e a força do setor cultural também do ponto de vista econômico. De acordo com um relatório[1] publicado em 2013 por instituições do governo francês ligadas às finanças e aos assuntos culturais, a cultura corresponde a 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) e emprega 670 mil pessoas. Em 2011, foram 57,8 bilhões de euros investidos em cultura na França.

A MITsp inova, desde 2018, com a criação, expansão e consolidação da MITbr – Plataforma Brasil, um programa de internacionalização das artes cênicas brasileiras. Realizamos dois cursos de capacitação para gestores e produtores de agenciamento de projetos em âmbito nacional e internacional, além de um seminário sobre a internacionalização das artes cênicas destinado a agentes públicos e privados. A MITbr – Plataforma Brasil apresentará também um recorte do panorama da cena contemporânea do país para agentes e programadores de festivais de artes cênicas nacionais e internacionais.

A coragem e a utopia são o que nos mantém e o que nos move.

Guilherme Marques
Idealizador e Diretor Geral de Produção


[1] http://www.culturecommunication.gouv.fr/Documentation/Rapports/L-apport-de-la-culture-a-l-economie-en-France