No Pensamento em Processo realizado logo após uma das apresentações do espetáculo STILL LIFE no Sesc Vila Mariana, no dia 6 de março, o diretor grego Dimitris Papaiouannou falou sobre seu processo de criação, neste caso, centrado em investigar como os corpos interagem com os materiais. Um dos pontos iniciais foi a ideia de colocar fumaça dentro de um plástico, no teto, sobre o qual age a gravidade, criando uma forma esférica que aponta para o centro do palco. “Então, pensei: por que não colocar no centro do palco todas as coisas ridículas que o ser humano tenta transformar?”, contou Dimitris, já pensando nas relações entre leveza e peso, etéreo e matéria que essa imagem instável permitia. “Como achar o equilíbrio entre o nosso ser material e o etéreo? Isso me interessa muito pessoalmente. Tento criar coisas que parecem nada, mas, de alguma forma, podem ser intrigantes ou interessantes. Alcançar o máximo de efeito emocional com os mínimos recursos”‘.
À fumaça dentro do plástico evocando um céu cheio de nuvens, seguiu-se a criação de cenas de pessoas indo e voltando no centro do palco, fazendo coisas (como entrar e sair de uma parede-colchão carregada nas costas). “Nesse momento da vida, achei que, se eu usasse música no palco, estaria trapaceando. Costurar as coisas também seria trapacear. Então decidi pegar cinco grandes ideias, colocá-las no palco e dar tempo a elas”. Nesse processo, os atores e bailarinos contemporâneos que compõem o elenco contribuíram com ideias de formas de interagir com os materiais. “Eu estava buscando alguma coisa que parecesse interessante, o que não é fácil. E, quando encontrava, tentava ir mais fundo para encontrar alguma forma que fizesse sentido”. Mas a lógica era a da emancipação do espectador, a quem não se impõe sentidos prontos: “Se queremos ser homens livres, não queremos ninguém nos dizendo o que sentir ou fazer. Mas queremos que os artistas nos provoquem a pensar. As coisas devem ser muito abertas, mas, no meu gosto, muito claras e bem construídas também . Só se consegue enxergar através de uma superfície transparente e bem polida”.