10/03/2015 | Luciana Romagnolli

Na conversa com o diretor de Woyzeck, Andriy Zholdak, os atores foram um tema prodominante. “Eu os divido em vivos e robôs”, disse o ucraniano, quando perguntado sobre como forma os diferentes elencos com os quais cria seus espetáculos. “Trabalho muito em vários países, no ano passado, fiz três espetáculos em países diferentes. Hoje, um problema para mim e muitos diretores é como posso encontrar um ator vivo. Porque o século XXI tem esse grande problema no teatro: atores vivos precisam criar coisas para pessoas vivas. Quando o ator é muito bom do ponto de vista técnico, o problema hoje em dia é que fica artificial”, critica. “Tenho conhecido em diferentes países ricos de verdade, com negócios próprios e aviões. Às vezes, converso com essas pessoas e vejo a estrutura dos cérebros delas, como se fosse uma placa na frente da testa, uma tela que classifica tudo como vivo ou não vivo. E os atores, oje em dia, ficam como essas pessoas. Parece que eles têm um capacete. A minha tarefa de escolha de elenco é fazer um buraquinho nesse vidro e soprar dentro, para dar outra respiração. Às vezes não consigo, aí ele tem de ir embora ou eu tenho de ir embora”, disse.
Zholdak colocou o coração como seu parâmetro de escolha. “Às vezes, tem ator bom mas que está com o coração pequeno. Acho que os artistas são pessoas de coração grande. Durante os ensaios, faço como um raio-x para identificar o tamanho do coração do ator. O coração tem que ser o lugar que controla o senso.  É um momento muito difícil de escolha, coo se fosse um processo químico entre ator e diretor. E, às vezes, acontece de a gente não conseguri fazer o espetáculo”, disse.
Para ele, Woyzeck é o instantâneo de outra fase, o ano de 2008, quando o espetáculo estreou. “Eu passava por uma crise e o Woyzeck mostrava o que estava acontecendo no meu cérebro”.
Impulso
A imagem da ex-primeira ministra ucraniana Iúlia Timochenko, exibida no cenário de Woyzeck como um retrato de parede coberto por grades, faz uma ligação emocional com a personagem Maria, segundo contou o diretor, acrescentando que trabalhou com a atriz que a interpreta a figura da raposa como referência. “Pesquisamos como as raposas vivem, movem-se e procuram acasalamento”, disse.
O encenador comentou que as mulheres têm papel importante em todos os seus espetáculos. “Através delas, conto histórias sobre homens e sobre o mundo”.
Para ele, a inspiração de um artista surge em momentos hipersensíveis, como a dor de uma agulhada na cabeça ou os segundo entre vida e morte de alguém que cai do vigésimo andar. “Nesse momento, você consegue enxergar bem o exato um segundo que deve colocar no espetáculo. Quando não consigo ver esse impulso, faço cenas banais”.
Zholdak contou ainda que cria poucas peças na Ucrânia, pela falta de abertura dos teatros locais. “Todos os teatros em Kiev tinham medo de mim”, lembra.