Por Isabella Marzolla

 Amor e Ódio ao corpo no Brasil foi tema de debate na tarde ensolarada do último domingo (11), em plena esquina da avenida Paulista com a rua Teixeira da Silva, encerrando a programação de Olhares Críticos da 5ª MITsp, Mostra Internacional de Teatro de São Paulo.

Com uma plateia eclética, que reunia desde crianças e seus pais a intelectuais do meio cultural e moradores de rua, questões polêmicas como o corpo e suas concepções errôneas, a sexualidade sem pudor, o repúdio à norma e concepções enraizadas na sociedade brasileira dominaram a cena.

Participaram do debate a atriz e dramaturga de Curitiba, Leonarda Glück, a atriz Laís Machado e o curador Gaudêncio Fidelis, com mediação do crítico teatral Patrick Pessoa.

Machado apontou que grande parte dos problemas e preconceitos que as minorias sociais sofrem decorre de “todo controle moral exercido através do corpo”. Para ela, a resistência e militância presente em suas peças se dá porque “eu faço isso para sobreviver, para continuar querendo viver”. A atriz relembrou os diferentes preconceitos presentes em sua vida, como por exemplo na Escola de Teatro da UFBA (Universidade Federal da Bahia), por parte de colegas e professores, que “duvidam da sua capacidade intelectual ao julgar sua pele negra, afinal o espaço acadêmico é majoritariamente branco”. A partir dessas experiências tornou-se recorrente em suas peças a nudez, para a cor e o corpo ficarem em evidência e permitirem o debate sobre o preconceito, a aceitação e o respeito.

Já o curador Gaudêncio Fidélis, que se tornou nacionalmente conhecido por ter organizado a mostra Queer Museu, censurada no Santander Cultural de Porto Alegre, no ano passado, chamou atenção em suas falas para “o cerceamento de obras, quadros e performances que são tiradas de museus com justificativas antiquadas e com uma justiça fundamentalista”.

Finalmente, Leonarda Glück, em uma concepção mais ampla, afimou que “a solução para acabar com os preconceitos e os obstáculos enfrentados tanto pelos transexuais, como eu, quanto para toda a comunidade LGBT e os negros, é a educação social”. Para ela, “depois que os portões foram abertos, nós não vamos voltar nem pra senzala e nem pro armário”. “

A participação de Leonarda foi contundente: “Eu falo da questão trans mas isso não me restringe. Na arte o que tem se visto é uma tentativa de alargar esse ponto de vista, pois falta a educação do que é o corpo na sociedade.” Ela lembrou que o Brasil é o maior consumidor do mundo de pornografia transexual, mas que também é o país que mais mata transexuais. E concluiu: “Nós somos um povo esquizofrênico, que deseja e massacra as trans e os trans ao mesmo tempo”.

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