Por Melissa Yabuki 

“Nós estamos querendo que vocês parem de nos chamar de violentas, bélicas e imbecis”, afirmou Renata Carvalho, atriz, produtora e diretora, atualmente em cartaz com o espetáculo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu. Transexual desde 2007, ela abriu a primeira parte da mesa-redonda Crítica não é censura: de quem é a arte que pode tudo?,  na seção Olhares Críticos, na última sexta-feira (9).

Em uma fala que contrapunha muitos “a gente” contra “vocês”, Renata representava a MONART (Movimento Nacional de Artistas Trans), e defendeu que “a nossa presença precisa ser naturalizada e humanizada com representatividade”. Incisiva, conclamou: “estudem mais a transexualidade e travestilidade”.

Para Renata, isso é uma exigência no teatro, afinal ele seria o “o lugar mais democrático do mundo”. Sempre em uma posição com “tom militante”, como ela mesmo define seu teatro e sua identidade, Renata afirma que para acabar a transfobia, “a gente” e o cisgênero precisam estar aliados.

Por outro lado, a atriz Georgette Fadel, atualmente em cartaz com espetáculo Afinação, chegou a ser motivo de polêmica nas redes sociais com o espetáculo Entrevista com Stela do Patrocínio, por interpretar uma personagem negra e chegou a interromper a peça após os comentários.

“Sou a favor da liberdade irrestrita no campo da cultura, o espetáculo pode continuar mesmo que haja manifestação, já que os povos oprimidos têm todo o direito de se expressar e isso tem que fazer parte da obra”, defendeu.

Para ela, “no teatro a experiência deve vir junta, aliar, lutar, ouvir, e abrir mão da própria particularidade é importante, apesar do medo que ela pode proporcionar ao artista”.

“As questões são complexas, mas de certa forma simples. A complexidade se dá porque é muito favorável para instâncias de poder, porém na razão as coisas são muito claras em cada situação”, afirmou Georgette.

Segundo ela, a escolha pelo teatro se deu por conta da liberdade e consciência dessa linguagem. “A liberdade não é só do artista, mas sim a liberdade pelo outro”, disse. A atriz também defende que a luta do momento é outra: “Há uma distorção grave da função artística, apesar de defender a liberdade dos companheiros artistas”.

Para o jornalista Kil Abreu, outro participante da mesa, critico e atual curador de teatro do Centro Cultural São Paulo (CCSP), “a questão não é um tema docinho de coco e tem muita implicação”.

Para ele, temas como representatividade negra e a questão de gênero não surgiram agora, mas o aparato tecnológico atual proporcionou amplificar a importância social. “Algo se quebrou, ou algo está quebrando”, parafraseou os versos de Caetano Veloso.

Ele observa formas de convenção, de politica, de estética e de paroxismo que tornam a questão muitas vezes de “abafar conflitos pela amizade e alteridade”.

A solução que Abreu propõe é começar pelo “elementar”: “Estudar, formar consciência e começar a ouvir, permitir que o outro critique e se posicione tornando uma abertura maior da discussão.”

 

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