Por Manuela Avanso Magalhães Souza Branco
“Você não precisa se encaixar em um espaço que já exista, você pode criar um.” Assim Daniele Avila Small sintetiza o motivo da criação de Questão de Crítica, que completa 10 anos agora em março de 2018. Segundo Small, “antes da revista Questão de Crítica os espaços existentes se restringiam mais a resenhas regionais”.
A década da Questão de Crítica foi tema do debate realizado no Goethe Institut – São Paulo, na segunda (5), onde foi apresentada toda a trajetória da revista, criada no ambiente universitário por Small, Paulo Mattos, Patrick Pessoa e Renan Ji.
Em um contexto marcado pela diminuição do espaço crítico nos jornais e revistas tradicionais, Questão de Crítica trouxe novas possibilidades graças à era digital. “Faltava gente da minha geração para escrever crítica”, contou Small. A criadora da revista disse ainda que “não imaginava que o trabalho poderia durar tanto tempo e nem que seria uma influência para outras revistas que realizam críticas”.
Uma das questões que surgiu ao longo do debate foi sobre a profissionalização do crítico, que muitas vezes não exerce apenas essa atividade. Na verdade, o que torna essa prática mais difícil, é que a crítica é mais um complemento, o que não ocorre apenas na área teatral, mas em todas as atividades artísticas. Por isso, muitos críticos acabam buscando carreira universitária, o que lhes proporciona independência do mercado.
O que trouxe, no entanto, oxigenação à crítica foi a internet, uma ferramenta benéfica por ser de fácil acesso a grande parte da população. Tal ferramenta permite que novos críticos se formem e conquistem espaços, antes limitados a poucos jornalistas, ampliando as possibilidades de debate.
Já a necessidade de a crítica trabalhar coletivamente foi mencionada na fala de Patrick Pessoa, de modo que a pratica da crítica seja feita por um coletivo de pessoas com pontos de vista diferenciados. Outro aspecto reforçado por Pessoa foi que o ponto central de escrever crítica é que elas só são escritas quando a obra possui algum aspecto negativo ou foi muito tocante em algum momento.
Por outro lado, Renan Ji ressaltou que a prática da crítica acaba sendo feita da mesma forma em outros países os quais ele visitou. A dificuldade de manter a revista também foi uma questão ressaltada pelos seus criadores. Justamente pelo modo de produção de um veículo como uma revista, a demanda acaba não acompanhando o tempo de produção.
Ao relembrar os dez anos da revista, os criadores deixaram claro que fazer crítica não é uma ação fácil e demanda muito esforço, mas que é uma ferramenta muito importante da atividade cultural.