Por Manuela Avanso Magalhães Sousa Branco
“Um corpo que lê para um outro corpo” é como Nayse López define a ação Você Tem Um Minuto Para Ouvir A Palavra?. Tal ação propôs discutir o modo como ocorre o acesso à cultura e o contato com a arte na vida das pessoas, levando-se em conta que, na maioria das vezes, essa relação ocorre somente no ambiente artístico de teatros e museus.
López é diretora artística e criadora do festival Panorama, no Rio de Janeiro, que ocorre há 27 anos. A mediação contou com a leitura pública de obras sobre política e arte com aqueles que se disponibilizassem para ler e um debate que também contou com a performer Ana Luiza Santos e mediação do professor e crítico teatral Patrick Pessoa.
O ponto central da discussão girou em torno do isolamento da arte e a falta de estratégias para que a arte não seja somente institucional e possa chegar à parcela da população que não está ligada diretamente por esse campo. O evento ocorreu em plena avenida Paulista no domingo passado, 4 de março, no espaço de livre circulação de transeuntes.
Ao falar de como foi criada a ideia do projeto, López ressaltou a necessidade de recuperar a conexão com as pessoas e acabar com a “espetacularização da arte”, levando a discussão cultural para fora dos ambientes privados e desta forma “abrir outros buracos”.
Durante o debate, Patrick Pessoa propôs pensar estratégias que permitem levar cultura para um público diverso, mas não somente pensando no momento imediato da ação, mas sim a longo prazo de modo que seja feito um trabalho que gere frutos para as gerações futuras. Em suas palavras “precisamos não operar apenas com efeitos imediatos sensacionalistas”.
López tratou também das ferramentas digitais atuais para disseminar a arte e expandir o mundo cultural para fora dos ambientes em que ele se apresenta, propondo “usar os mesmos artifícios que espalham discursos de ódio e notícias falsas para usá-lo em benefício da democratização da arte”.
Ainda segundo ela, assim como as redes sociais, a escola tem um importante papel de levar aos alunos às práticas artísticas e discussões do mundo cultural.
Durante a discussão, o debate foi aberto para a participação do público e contou com a observação proferida por um cidadão sobre o papel da escola como meio de levar cultura aos estudantes, por ser um ambiente de aprendizado. Segundo ele, “desse modo pode-se tirar a arte do universo teatral dos museus e amplificá-la em outros ambientes”.
Em síntese, a ação tratou de como é necessário entender que arte é convite e que deve ser expandida sempre que possível para fora de seus ambientes usuais, como as exposições de museu e os teatros, considerando que são espaços pouco acessíveis, visando assim aproximar arte e vida.