Por Manuela Avanso Magalhães Souza Branco
A rua se torna um dos locais prioritários para o debate da arte sair de seu circulo limitado. Essa é a síntese do projeto de Ana Luisa Santos, que ocupou a Praça da República, no centro de São Paulo, uma das primeira ações da seção Olhares Críticos, com curadoria de Daniele Avila Small e Luciana Eastwood Romagnolli. Esse segmento abarca performances e debates reflexivos dentro da 5ª MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo.
No último sábado dia 2, Santos esteve na praça levando consigo apenas um bodydoor, espécie de placa usada em fachadas comerciais, com a frase: “Troco Pontos de Vista”. Seu objetivo era dialogar com os transeuntes interessados que passavam pelo local, em uma troca aberta de informações, sejam elas quais forem, ou até mesmo interações de abraços e sorrisos.
Nas palavras de Santos, a ação funciona como um lugar de intervenção e de rompimento do fluxo de indivíduos que circulam no espaço criando um “lugar de escuta, de troca”. Quando os transeuntes paravam e perguntavam sobre o que seria a manifestação, ela explicava: “pode ser o que a gente quiser”. Assim, a liberdade de debate com cidadãos incluía até mesmo a reflexão sobre as regras da própria ação.
A curadoria do eixo Olhares Críticos escolheu esse projeto para também debater o isolamento da arte sentido especialmente em 2017, a partir da censura a vários espetáculos e exposições. A intenção dessa ação, portanto, é promover a democratização da arte e da cultura e levá-la ao espaço de todos, saindo do ambiente teatral ou de exposição fechada, em geral restrito a públicos específicos.
Outras mediações já foram realizadas pela artista em anos anteriores, como Um museu agora comigo (2013), em que ela se oferecia para ir a um museu com quem se disponibilizasse.
Tal estratégia de ação utiliza o corpo como instrumento político e ferramenta de discussão, debate e troca de informações entre indivíduos comuns, muitas vezes sem relação próxima com a arte ou que não possuem conhecimento de uma linguagem artística.
Ocorreu também durante o ato a distribuição de ingressos para alguns espetáculos da MITsp como forma de ampliar o acesso das pessoas à arte, uma ação de democratização do próprio festival.
A criação do conceito desse tipo de manifestação ocorreu, explicou Santos, “a partir de uma série de ações com a mesma dinâmica do bodydoor”. Para a artista, nesse contexto, a ferramenta principal é “a interação na rua como forma de contato direto com as pessoas e a vontade de conversar com esses indivíduos sobre a experiência artística e o modo como a arte chega na realidade de cada cidadão”.