Castellucci conversa com público via videoconferência
O segundo dia (9) da MITsp foi marcado por uma série de reflexões acerca do espetáculo Sobre o conceito de rosto no filho de Deus. Além das palestras dos professores Luiz Fernando Ramos (ECA/USP) e Laymert Garcia dos Santos (Unicamp), o diretor do espetáculo, Romeo Castellucci, conversou com o público via videoconferência no Itaú Cultural, em debate que contou também com a presença dos atores Gianni Plazi, Sergio Scarlatella e Silvano Voltolina.
Na conversa, Castellucci refletiu sobre os pilares filosóficos do espetáculo, a partir da cena inicial, que mostra o cuidado do filho com um pai idoso que sofre de incontinência fecal. “A primeira imagem desse trabalho foi a imagem de Cristo, que representa essa busca renascentista pela beleza. Depois veio a imagem de uma condição humana na qual havia uma perda da dignidade. Procurei trabalhar sobre esse duplo aspecto: a beleza representada pelo Renascimento italiano de um lado, e, do outro, uma imagem real e concreta da vida humana. Mas queria transformar esse aspecto feio da vida em um gesto de amor, e ele veio pelo o cuidado no tratamento do filho com o pai. E esse ato, que não tem valor estético, deveria se transformar em uma forma de luz que refletisse no rosto de Cristo”, contextualiza o diretor italiano, ressaltando também as múltiplas possibilidades de leitura que o espetáculo proporciona.
Castellucci também abordou um dos aspectos mais importantes do seu trabalho como diretor: as relações entre arte e religião. “O teatro em si tem uma força religiosa. Arte e religião nascem juntas, não podemos deixar de pensar na religião quando fazemos teatro e não há nada de doutrinário nisso. Trata-se de uma questão de estrutura, de colocar o corpo dentro de uma história. E a etimologia da palavra religião é ‘colocar junto’, então o teatro por si só já e religioso, quando as pessoas estão juntas diante de uma imagem, esse ato já é religioso. E, claro, eu nasço no contexto da religião cristã, grega e hebraica, essas são estruturas fundamentais do pensamento ocidental, nasci nesses limites, então e impossível pra mim pensar em outros termos”, destaca.
Já para o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, em palestra ontem (9), após o espetáculo, Sobre o conceito de rosto no filho de Deus trata de uma “contemplação muda da decadência da beleza e da dignidade humana”. “O que Romeo quer nos fazer ver é uma perda, paradoxalmente dupla e única. E isso precisa acontecer não no intelecto, mas no plano da percepção”, diz o sociólogo, ressaltando a violência das imagens, responsáveis por uma alteração de estado no espectador. “Nesse espetáculo, quem olha e quem é olhado? (…) Cristo nos toca porque deseja compartilhar conosco a sua dúvida humana”, opina.
* O texto de Laymert Garcia dos Santos pode ser lido na íntegra nesta mesma seção Notícias do site.
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