Matheus Lopes Quirino

“Em Assembleia Geral as pessoas seguem o ritmo de funcionamento de um parlamento clássico; suas discussões são respaldadas pela ideia de trazer bom conteúdo e criar reflexões sem precisar, obstinadamente, pensar em ‘novas estruturas’”, sintetiza Eva-Maria Berstchy no debate sobre o projeto-documentário do diretor suíço Milo Rau. Assembleia Geral: Democracia e representação no mundo contemporâneo, realizado em conjunto com o International Institute of Political Murder, foi debatido no Goethe-Institut São Paulo, na última quinta-feira (8).

Pontos de vista distintos acerca de política como forma de manifestação nas artes se chocaram no evento. Sob mediação do curador Benjamin Seroussi, o debate contou com a pesquisadora Eva-Maria Berstchy, da Universidade de Belas Artes de Berna, Lucio Bellentani, militante e ex-metalúrgico, e Diego Costa, presidente do Instituto Ordem Livre.

Segundo Berstchy, a proposta de Rau abrange outras formas de pensar a democracia representativa. Na Assembleia Geral realiza-se um grande encontro com delegados de sessenta países com o objetivo de dar espaço de fala para quem quisesse questionar a forma de conduta da estrutura política global. Questões sociais, raciais e LGBTS apresentadas por personagens bastante heterogêneos derem diversidade ao documentáro.

Bellentani, que também participou das filmagens de Assembleia Geral, criticou a fragilidade da ideia de “democracia do Estado em ditaduras”. Ao fazer um paralelo com o período no Brasil ele deu aos espectadores uma indagação a respeito dos valores democráticos atuais.

Da plateia, Amílcar Packer discorreu uma fervorosa análise sobre o poderio pernóstico das estruturas das multinacionais e seus impactos quando as democracias são frágeis.

Já Diego Costa, sob uma ótica menos radical, provocou, com exemplos brasileiros, sobre como funciona a dependência da política ao teatro.  “A política real, sem maquiagem, apresenta lances de ‘dor e sofrimento’, sendo que o papel dos políticos é atuar em tempo integral, a não ser quando estão fora do Congresso”. Costa, que se diz um liberal convicto, também criticou a atual postura do Movimento Brasil Livre (MBL) classificando o marketing político do grupo como “uma manipulação simbólica”.

Contrapontos estéticos

Após os depoimentos e perguntas, as críticas teatrais Luciana Ramagnolli e Daniele Small indagaram sobre o ponto de convergência do debate – até então em essencialmente político – com questões de condução da Assembleia de Milo Rau sob uma visão especificamente teatral. A reposta foi perpassada pela ótica geral de “o homem é um animal político” e, portanto, ele atua em busca de seus interesses; houve um consenso dos debatedores sobre a impossibilidade de separar forma e conteúdo. Ainda segundo Small: “o tom político tomou conta das questões formais do debate, pois quando estes debates artísticos tocam em temas tão pungentes é impossível estas questões não virem à tona”.

Para Berstchy, comparando esteticamente as propostas de Assembleia Geral com Tribunal do Congo, que também é objeto de crítica da 5ªMITsp, “esta é uma forma que a gente já fez em 2017, antes de Assembleia Geral, que foi o Tribunal do Congo. Nós copiamos a forma de um tribunal e, agora, ampliamos sobre o funcionamento de um parlamento, é muito interessante observar esta estrutura”.