Por Victor Henrique

“A minha forma de habitar meu corpo não coincide com o que vejo no espelho”. Com essa incomum e impactante frase, Victoria Pérez Royo, professora espanhola da Faculdade de Filosofia da Universidade de Zaragoza deu início à masterclass “Corpo, Afeto e Política no Teatro Contemporâneo”.

Ao iniciar a sua fala, Royo introduziu uma reflexão sobre o corpo na arte e na sociedade, dizendo que “os corpos viajam para fora de si para outros corpos humanos ou não, para encarar outras experiências, fugir de si mesmos”, referindo-se ao pensamento humano de modo geral, suas emoções e seu estado de espírito.

A corporalidade foi o principal assunto da palestra. Royo explicou as várias vertentes e varias diferenças que o corpo possui, alem de seu formato estético, dizendo como o corpo está presente não apenas na arte, mas em cada ação do cotidiano por mais básica e banal que possa parecer, ações que envolvem política, não apenas no campo externo, governamental, mas também no campo interno do indivíduo. “O corpo está vinculado em como fazemos nossas práticas, nossas ações cotidianas, e o tipo de política que quero dizer é uma analise política da nossa situação”, disse.

Algo que foi muito enfatizado em seu discurso foi a importância do coletivo na sociedade contemporânea, em como é importante a preocupação com os outros “corpos” ao redor. Com isso, ela aproveitou para abordar temas de algumas peças em cartaz para realizar criticas enfáticas à questões como solidão, guerras e racismo, por exemplo.

Na peça Suíte nº2, do diretor Joris Lacoste, que abriu a programação da 5ª MITsp 2018, Royo destacou a importância do diretor ter “apresentado falas de diversas partes do mundo e seus contrastes”, mostrando que algo tão simples como a fala pode ter um efeito extremamente impactante, assim como a corporalidade, da qual ela trata em seu trabalho.

Algo dito por Victoria na maioria das suas interpretações sobre a peça foi a relação do abstrato com o concreto, como o que ocorre na apresentação Campo Minado de Lola Arias, cujo assunto era a relação de soldados ingleses e argentinos da Guerra das Malvinas. A acadêmica observou o caráter violento apresentado contra os corpos dentro do universo da peça, em relação a como é apresentada também a identidade de cada soldado, presente não apenas física mas psicologicamente. Para ela, a história que cada soldado carrega consigo faz parte da “corporalidade”.

Victoria Pérez Royo apresenta uma visão extremamente humana e cuidadosa para vários dos problemas atuais, tanto em nível nacional como internacional, quando uma onda conservadora e moralista infesta grande parte do globo.