Por Gabriela Testa

“Eu sou uma dessas pessoas que vocês falam tanto e não dão nomes, é o momento em que as artistas trans estão lutando por representatividade trans, nós estamos lutando para não sermos apagadas novamente”, disse Renata Carvalho, de forma contundente durante a mesa-redonda O mal estar das mediações e o isolamento da arte na 5ª MITsp – Mostra Internacional de Teatro, na última quinta-feira (7).

A mesa contou com a participação de Marcos Alexandre, Renan Marcondes, Rita Aquino e Wagner Shwartz , que buscaram responder três questões centrais programadas pelas curadoras Daniele Avila Small e Luciana Eastwood Romagnoll, entre elas “Onde a cadeia artística se rompe?”.

“Eu não acho que a cadeia se rompa nesse contexto, eu penso que esse momento evidencia o problema e emoldura a gravidade de violências físicas e simbólicas que aí se inscrevem, mas é um problema histórico”, disse Aquino.

Já Marcondes dividiu o rompimento da cadeia em dois momentos: o primeiro, “quando nós pensamos no nosso público como consumidores do nosso trabalho”. Ele retomou o surgimento do museu MOMA, em Nova York, em 1930, onde o idealizador buscou transformar o seu público em um “consumidor educado”. Segundo ele hoje “há todo um aparato que interrompe e impossibilita qualquer experiência mais alongada com a obra”.

O segundo momento, para Marcondes, é “quando pensamos que temos algo a dizer a um público que não sabe muito bem o que está rolando”. Conforme sua fala, há uma necessidade em recusar a ideia de que há um público que não sabe algo que o artista sabe e que, portanto, precisa de explicações sobre a obra.

A segunda questão proposta pelas curadoras foi “Como artistas, críticos, pensadores e curadores podem trabalhar juntos para diminuir a distância entre produção artística e a recepção não especializada?”

Para Aquino é necessário que haja um trabalho em conjunto, “fazer com, não fazer para ou em nome dele”.  “Se a mediação não busca esta relação efetiva de encontro e diálogo com os lugares de fala do outro, sempre estaremos no meio do caminho”, disse ainda Alexandre. De acordo com ele, antes de pensar em como diminuir essa distância, é essencial pensar em falar sobre o outro.

Com sua primeira fala pública depois da polêmica exposição no MAM em 2017, Shwartz leu um texto de sua autoria. “Para ter a experiência de uma obra de arte é preciso se deslocar, e quanto mais o deslocamento mais a sensação de isolamento das demandas que autorizam a circulação sem risco dos espaços públicos”, disse. O artista apontou para a necessidade de que a mediação ocorra através de um distanciamento entre o eu e o outro.

Já no final da mesa-redonda a fala de Renata Carvalho gerou inquietação. “Representatividade é o ato de estarmos presentes” disse a atriz. Ela trouxe para o debate o que significa o mal-estar das mediações estando no papel do “outro”. A falha das mediações está na dificuldade de enxergar o outro. “Violento é o silêncio, é o apagamento da minha história”. Para Carvalho, a resposta para o aperfeiçoamento das mediações está em enxergar o outro.